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| créditos da imagem: site / Estante Diagonal |
Cilada foi o primeiro livro do autor Harlan Coben que eu tive o grande prazer de ler. Eu já me identificava muito com o gênero explorado pelo autor, mas passei a consumir cada vez mais obras do gênero depois desse livro.
"Eu sabia que minha vida destruída se abrisse aquela porta vermelha.[...]"
Na história, temos diferentes tramas que tomam rumos diferentes e reviravoltas intrigantes que logo passam a revelar um segredo perturbador. Na trama central temos o desaparecimento de Haley McWaid, uma adolescente de 17 anos que era a miss exemplo de filha perfeita americana. Boa aluna, boa filha, boa esportista. Mas quando ela não volta para casa certo dia e se passam 3 meses desde então, é inevitável não pensar no pior.
"Era como se Haley tivesse sido tragada pela terra. Um mês se passou. Nada. Depois dois. Nada também."
Paralelo à tudo isso temos a história do assistente social Dan Mercer que é atraído por uma jovem ao telefone que diz precisar de sua ajuda, mas quando chega ao local é encurralado pela repórter investigativa Wendy Tynes no que se revela ser uma cilada. A partir desse momento Dan Mercer passa a ser acusado de pedofilia pela comunidade e passa a ser o principal suspeito do desaparecimento de Haley. A cobertura jornalística e a total atenção e esforços da mídia em tornar a vida de Dan um conto de terror transforma a vida dele num espetáculo aberto. Sua vida foi arruinada. Sua vida foi tirada. Mas tudo fica ainda mais macabro quando Dan é morto por um desconhecido e Wendy se torna a principal testemunha do crime. Agora, Wendy começa a duvidar se o que fez foi realmente certo e passa a questionar se ter seguido seus instintos foi um erro.
"A mãe insistira em ser a fotógrafa e ainda se lembrava da emoção que sentira ao ver sua família, seu maior tesouro, reunida ali, em torno do Mickey, na mais perfeita harmonia. Agora, olhando para aquela imagem, relembrando o breve momento de perfeição, não conseguia tirar os olhos do sorriso da filha."
Nessa história muito bem elaborada eu sinceramente tiro meu chapéu para o Coben. O enredo é bem trabalhado, os personagens são perfeitamente construídos e possuem um grande espectro de emoções e motivações. Wendy com toda a certeza é a personagem mais humana por assim dizer, ela representa muito bem o conflito travado dentro de nós com respeito à seguir a lógica ou se deixar confiar nas pessoas. Quando expõe em rede nacional Dan Mercer, Wendy tem a certeza de que ele é realmente uma figura má e pervertida. Mas e se ela estiver errada? Essa questão é o plot que move todo o enredo. O sentimento de culpa da personagem é agonizante e a move a investigar mais a fundo a vida do cara que ela possivelmente arruinou sem motivos sólidos.
"Se Dan Mercer for mesmo inocente, eu arruinei a vida um cara bom."
Outro ponto que merece atenção no livro é sobre a questão da mídia televisiva. Hoje, telejornais, programas de tevê, revistas de fofocas, tablóides e sites sobre famosos tem o poder de acabar com a reputação e a vida de alguém. Vemos isso no caso de Dan Mercer. A atenção da mídia dada ao caso mesmo antes do julgamento prova o quanto a mídia pode ser maldosa e pouco moral e ética, influenciando quem assiste e expondo ideias e notícias tendenciosas pré-formuladas e de fácil assimilação. Dan Mercer logo passou de um simples assistente social à um pedófilo assassino instantaneamente.
Cilada é sobre luto, dor, culpa e decisões. Sentimentos como esses dentro de uma trama tão bem escrita podem ser pesados e carregados de cenas incríveis e embates e diálogos de tirar o fôlego. Cilada está entre meus livros favoritos. Esse é um livro surpreendente que tem a capacidade de te fascinar nas primeiras páginas e te deixar de olhos arregalados durante toda a leitura, te fazer criar inúmeras teorias, te fazer perder o sono só para ter o prazer de te deixar de queixo caído na última página.